[Foto: Clarisse Silva] |
Não. Não saias desse teu casulo. Não perguntes como estou, como tenho passado, se algo me tem preocupado. Fica nesse teu mundo, onde não me atrevo a penetrar. É um gelo ardentemente espesso que me impede de te observar. Onde estás? Sim, tu, sangue do meu sangue, que me deu vida e que vejo todos os dias embora nunca consiga observar. Falas uma fala que não me diz o que um dia gostaria de ouvir, sem apetrechos, sem medos, despindo a alma do tanto que há por dizer. E o que eu te poderia dizer? Ah… Poderia falar-te das mágoas que se avolumam de cada vez que não vejo a atenção ser dada da mesma forma a todos; poderia falar-te daqueles pequenos nadas do quotidiano que tanto gostaria que existissem, ao invés de te ver todos os dias assim; poderia falar-te de um olhar que ficou por dar, uma palavra que ficou por dizer… Tanto que teria para te exprimir que fico-me assim, tal como tu, nesta masmorra consentida conscientemente até que qualquer dia tenha a força e a coragem - caso não a tenhas tu -, de ultrapassar essa parede de gelo que criaste à tua volta. Por enquanto, tomada pelas mágoas que insistem em crescer em mim - mesmo quando nada o faria prever, após uma alegria mútua -, não me sinto com a mínima disposição de tentar mudar tudo isto. Rendo-me perante esse monstro invisível que existe entre nós, não com medo, mas com desconsideração face a toda esta situação. Se queres permanecer nesse casulo, quem sou eu para dizer que não deves?!
27 de Outubro de 2011
6 comentários:
Cara Clarisse
Embora vá lendo os seus posts, muito pouco tenho dito.
O seu texto de hoje sensibilizou-me. Quantos de nós, mesmo sem o perceber criamos um casulo à nossa volta que acaba por nos tornar insensíveis aos problemas dos outros. Mas no fundo somos nós que um dia vamos deparar-nos com um dos maiores sofrimentos, a solidão.
Cumprimentos
Rodrigo
Olá Rodrigo,
Sim, quem cria estes casulos, ainda que inconscientemente, acaba sofrendo de solidão. Quem a isto assiste, sofre o tempo todo...
Será sempre bem-vindo, com ou sem comentários. Curiosamente, lá no seu sítio, acontece o mesmo comigo.
Saudações,
Clarisse Silva
Minha querida amiga, que comovente e intenso este seu desabafo.
A vida ensinou-me que há coisas das quais não somos responsáveis e nada podemos fazer para as alterar.
Simplesmente há pessoas que nada aprendem com a vida.
Siga em frente!
beijinhos
Olá amiga Fê,
O que dizer? ... Creio que tem razão...
Agradeço todo o tempo, e todas as palavras deixadas - constantemente - aqui no meu espaço.
Beijinhos,
Clarisse Silva
Rendo-me perante esse monstro invisível que existe entre nós, não com medo, mas com desconsideração face a toda esta situação
Como é constrangedor o silêncio, aquela cortina de gelo invisível, que se instala subitamente entre dois seres. Noto no entanto, que não te limitas-te a cruzar os braços. Pelo contrário tudo fizeste para que o gelo se tornasse água.
Mas há certas coisas que só o tempo desfaz.
<<um abraço
Olá Rogério,
Talvez, talvez o tempo desfaça certas coisas, vamos esperar que sim.
Agradeço-te as palavras.
Clarisse Silva
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